terça-feira, 1 de março de 2011

Amor & Loucura.


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“Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades do homem. Quando o Tédio bocejava pela terceira vez, a Loucura, como sempre tão louca, propôs: ‘Vamos jogar Esconde-Esconde?’. A Curiosidade, sem conseguir se conter, perguntou: ‘Esconde-Esconde? Como é isso?’ ‘É um jogo’, explicou a Loucura, ‘em que eu escondo o rosto e começo a contar de um até um milhão, então vocês se escondem, e quando eu terminar de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo.’O Entusiasmo bailou, seguido pela Euforia, e a Alegria deu tantos saltos que convenceu a Dúvida, e inclusive a Apatia, que nunca se interessava em nada. Mas, nem todos quiseram participar. A Verdade preferiu não esconder-se. Para quê se, no final, sempre a achariam? A Arrogância achou um jogo muito tonto, mas no fundo o que a chateava era que a idéia não havia sido dela. A Covardia preferiu não se arriscar-se.Um, dois, três… A Loucura começou a contar.
A primeira a se esconder foi a Preguiça, que, como sempre, caiu na primeira pedra do caminho. A Fé subiu aos céus, e a Inveja se encontrou atrás da sombra do Triunfo, que, pelo seu próprio esforço, havia subido na árvore mais alta. A Generosidade quase não conseguiu esconder-se, cada lugar que encontrava lhe parecia maravilhoso para alguns de seus amigos, que foi um lago cristalino para a Beleza; a raiz de uma árvore: perfeita para a Timidez; um tufão de vento: magnífico para a Liberdade, e assim acabou se escondendo em um raio de sol. O Egoísmo encontrou um lugar muito bom desde o princípio: ventilado, cômodo, mas apenas para ele. A Mentira se escondeu no fundo dos oceanos… mentira, na realidade se escondeu atrás do arco-íris. E a Paixão e o Desejo no quarto dos vulcões. O Esquecimento, me fez esquecer aonde havia se escondido, mas não é importante.Quando a Loucura estava contando 999.999, o Amor ainda não havia encontrado um lugar para se esconder, pois todos estavam ocupados, até que no final encontrou uma roseira, e decidiu esconder-se entre suas flores e espinhos.
‘Um milhão’… contou a Loucura, e começou a procurar. A primeira a aparecer foi a Preguiça, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou a Fé conversando com Deus sobre zoologia. Podia sentir a Paixão e o Desejo vibrando nos vulcões. Em um descuido encontrou a Inveja e, claro, pode deduzir onde estava o Triunfo. Ele nem precisou procurar o Egoísmo, pois ele mesmo saiu de seu esconderijo, avistando ter um ninho de vespas.De tanto caminhar, sentiu sede e, alcançando o lago, descobriu a Beleza. Com a Dúvida foi com certeza mais fácil, a encontrou sentada perto dali, sem decidir de que lado esconder-se.
Assim, foi encontrando a todos. O Talento, entre a grama fresca. A Angústia, em uma cova escura. A Mentira, atrás do arco-íris, mentira, ela estava no fundo dos oceanos. E até encontrou o Esquecimento, que já havia se esquecido que estava brincando de Esconde-Esconde. Mas só o Amor não estava em nenhum lugar.A Loucura buscou atrás de cada árvore, debaixo de cada pedra do planeta, em cima das montanhas e, quando estava para dar-se por vencida, avistou uma roseira, pegou um canivete e começou a mexer os ramos de flores. Quando, de repente, um doloroso grito se escutou… Os espinhos haviam ferido os olhos do Amor. A Loucura não sabia o que fazer para desculpar-se: chorou, rezou, implorou, pediu perdão, e até prometeu ser seu guia.Então,desde a primeira vez que se jogou Esconde-Esconde na terra,o Amor é cego e a Loucura sempre o acompanha.”

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